segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Capate

Em meio aos anos setenta surge uma cena especialíssima em Porto Alegre que se desenvolve através das décadas seguintes no que se convencionou chamar de música gaucha, MPG, rock gaúcho e variantes.
Era uma cena que vinha dos final dos anos sessenta , dos festivais de música da faculdade de arquitetura e de um movimento musical local um pouco associado à Tropicália , tendo como expoentes Carlinhos Hartlieb, o grupo Liverpool, Hermes Aquinos e parcerias tantas e variadas. Antes ainda, ou, ao mesmo tempo, a Frente Gaúcha com Raul Ellwanger e os irmãos Dorffmam, para ficar nesses. No inicio de tudo, Lupicinio, Elis Regina, Tulio Piva, outros tantos.
Mas, os anos setenta da ditadura militar, da luta armada, dos grupos de esquerda, da clandestinidade produziram o seu antípoda, o movimento ao contrario ao que o sistema de excessão produziu. Via  um hipismo norte Americano, um movimento  assolou o mundo no inicio da  década pós Woodstock e que negava,  se engajava numa luta que pregava o fim da Guerra do Vietnam,
Aqui nos chegou junto a novas bandeiras defraldadas a favor das minorias raciais, sexuais e comportamentais e tantas outras coisas.
Não foi nada muito fácil equilibrar-se , nesse inicio de tudo, como considero, entre uma direita, um regime que reprimia o comportamento anti-convencional, representado por nossos cabelos longos , roupas coloridas, uso  e abuso de drogas alucinógenas , rock and roll, e uma crítica a sociedade de consumo, e uma acusação da esquerda militante que considerava esse movimento fruto da alienação política. Uma geração que era alvo de um plano maquiavélico da CIA em nos drogar a todos. O que era dificil de acreditar e como se comprovou mais tarde , não tinha nada a ver.
Mas acho que foi só com a vinda , a chegada de Fernando Gabeira do exilio, na década posterior que  essa geracão se confirmou. A geração imediatamente posterior à geração de maio de 68. Geração abissal e até hoje, pouco representada e representativa na cultura como um todo.Mas, hoje ainda , dentro de uma visão crítica à pós modernidade , à globalização e ao consumo irresponsãvel e exacerbado, é visivel a presença daquelas primeiras reivindicações, de um grupo social novo que emergia da obscuridade de um sistema politico, de uma época confusa, á luz de uma reação ideologica, numa outra ponta.
Não é minha intenção fazer antropologia, ou, traçar linhas históricas, sobre épocas e periodos, mas, sim, contextualizar o processo criativo no periodo.
Eu e o Ricky Bols, que foi meu parceiro visual nessa empreitada , sem deixar de reconhecer ,também, a ousadia criativa do “ editor” Eduardo Oliveira temos essa preocupação..
Nesse periodo foram lançadas, de forma alternativa, naturalmente, algumas publicacões no formato envelope, invenção, até provar ao contrario, do Eduardo. Foram três exatamente: Pedra Mágica , uma coletãnea do pensamento e visão estética daquele momento, o Com Peito um manifesto psicodélico escrito por mim, entre 19 e 21 anos de idade, enquanto aprofundáva-mos uma outra experiencia, essa musical: o Ricardo Frota , mais o seu irmão Ronald e eu, fundamos o grupo  UTOPIA, batizado assim  pelo Peixe, amigo e agregador de psicodelias variadas.
Houve mais uma publicação do Eduardo , com poemas seus, creio que se chamava Sonho de Vidro.
Quando , ainda no mes de dezembro passado, o Ricky me passou um email dizendo que tinha encontrado o Com Peito e me  convidou para publicá-lo virtualmente na rede, achei muito interessante .
O Ricky me falou que gostaria de colorir os desenhos, que, no original eram em p&b, e eu me dispus a revisar o texto e rearranjar tudo.
Foi um impacto, pois me veio de roldão tudo que foi vivido naquele periodo de bom e ruim. Entendendo ainda, que as idéias que ainda se desenvolvem, no meu imaginário, foram aquelas sedimentadas ali naquele periodo, sob aquelas condições .
Mas, claro, vejo o texto, mesmo que revisado, e nessa revisão, ter excluido alguma coisa  e de ter  refeito outras , um texto manifesto do psicodelismo que experimentamos ali.
E é certo que esse psicodelismo está  mais para uma bad trip  do que para qualquer sensação de beatitude, promovido ocasionalmente pela ingestão de alucinógenos, pois buscávamos  nos equilibrar entre essas duas forças que falei anteriormente: uma à esquerda e outra à direita.
Mas, entre mortos e feridos, esta ai, antes de tudo um documento escrito e desenhado por dois jovens, muito jovens, que usavam ,  a titulo de expansão da mente, uma alteração da realidade, para melhor entende-la, para melhor se situar dentro dela.
Espero que o Eduardo ao saber dessa revisão não se importe com as mudanças feitas, pois , a tentativa é de esclarecer mais ainda , no formato desse texto, aquele período nas nossas vidas.
Dedico essa publicação virtual à Claudinha.
Até lá mil olhos!

UTOPIA

2 comentários:

  1. SURPRESA. ENTREI NO BLOG DO RICKY E SAÍ EM 1976. UTOPIA E O VOCAL MALDITO TB.É HISTÓRIA. O MAGIA TÁKI NA ILHASC, TB. VÃO XAMAR PRÁ TOCAR COM D RU? NÓIS VAI. PAGANDO BEM SE VOLTA. RSRSRS C.ASP

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